6 de mai. de 2007

SOBRE SER NORMAL.....

MARTHA MEDEIROS - Página 26 - O Globo 29/04/2007
Mato, logo existo
Não é um bom assunto para domingo, reconheço.
Mas estamos sempre tão ocupados nos dias da semana que não custa reservar dez minutinhos do dia de folga para refletir um pouco sobre que espécie de adultos está sendo formada aqui e no mundo. O sul-coreano que no dia 16 de abril matou 32 pessoas dentro de uma universidade americana é um exemplo — a essa altura, já antigo, mas serve. Era um doente, e qual a doença dele? Solidão, depressão. Não se pode chamar de caso raro.
Um dia depois da tragédia, entrei numa sala de bate-papo na internet para ler os comentários sobre o episódio. Até então, não estava tão perplexa — é um crime recorrente nos Estados Unidos. Mas ao me deparar com a reação de alguns brasileiros da mesma faixa etária do assassino, aí sim, estarreci. Nunca vi um conjunto de idéias tão preconceituosas, agressivas e mal escritas. Era o festival da ignorância. Uma amostra da miséria cultural, intelectual e afetiva que caracteriza os novos tempos. Ninguém discutia com civilidade, os comentários eram belicosos e ferozes e, quando discordavam uns dos outros, aí é que a baixaria rolava solta. Pensei: eles estão protegidos pelo virtualismo, mas se estivessem frente a frente e com uma arma ao alcance da mão, quem garante que não teriam seu dia de Cho Seung-Hui? Esses garotos e garotas têm a rebeldia natural da idade, mas é uma rebeldia sem argumento, vinda do desespero. Eles cresceram assistindo a uma quantidade exagerada de violência na TV e no cinema, idolatram músicos que cantam coisas como "eu escrevo minhas próprias leis com a morte", têm pouco contato com o pai e a mãe, mantêm amizades de faz-de-conta e são soterrados por uma avalanche de informações que mal conseguem filtrar. Tudo isso numa sociedade cada vez mais competitiva, na qual a ordem é aparecer a qualquer custo. A felicidade há muito deixou de se concentrar na trinca amor-saúde-e dinheiro: agora é popularidade-sexo-e-muitomuitomuito-dinheiro. Quem tem uma vida modesta se frustra: conclui que é uma pessoa que não existe, que não conta, que não vale. E resolve dar o seu recado na marra.
Impossível esse relato não soar dramático, mas irreal não é. A vida mudou. E temos alguma responsabilidade nisso, não somos apenas vítimas, mas cúmplices. Está mais do que na hora de ficarmos mais perto de nossos filhos. De oferecer a eles livros e música boa, dar muito carinho e elogio, ficar de olho nos lugares onde eles vão e em com quem saem — um pouco de controle não faz mal a ninguém. É recomendável também tirar sarro dessas revistas que vivem de fofoca, ridicularizar a fixação pela estética, mostrar a eles que os super-heróis de verdade costumam ser mais discretos. Porém, discrição é uma coisa, fuga é outra. É preciso chamar essa garotada para um papo quando estiver silenciosa demais, ajudá-la a compreender essa loucura aí fora (que nem nós compreendemos direito), levá-la para viajar quando der, colocá-la em contato com hábitos mais simples e escutá-la muito, não importa sobre que assunto. É guerra: a agressividade e a miséria existencial que caracterizam nossa época precisam ser enfrentadas não só com Prozac, mas com cultura e afeto. A grande maioria dos adolescentes que aí estão não conseguirá ganhar fortunas, não vai virar artista nem doutor, não vai se casar com homens com barriga de tanquinho nem com mulheres que autografam a "Playboy": eles vão ter uma vida normal. E se o normal seguir não servindo para eles, pobres de nós todos.
''É guerra: a agressividade e a miséria existencial que caracterizam nossa época precisam ser enfrentadas não só com Prozac, mas com cultura e afeto''

5 comentários:

Anônimo disse...

Dê um conteúdo explendido!Passei um dia muito melhor com essas palavras!!!Obrigado Senhor pelo que me tens dado!

Julio do Gabriel

AEBH-RJ disse...

AMOR MAIÚSCULO
"Um homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho, para fazer um curativo na mão ferida". Estava apressado, dizendo-se atrasado para um compromisso, e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como sempre, tomar o café da manhã com sua mulher que estava internada lá. Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha um Alzeimer bastante avançado. Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde. - Não, ele disse. Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece. Estranhando, lhe perguntei: - Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs? Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse: É Ela não sabe quem eu sou, mas eu contudo sei muito bem quem é ela. Meus olhos lacrimejaram enquanto ele saía e eu pensei: Essa é a classe de amor que eu quero para a minha vida. O verdadeiro amor não se reduz ao físico nem ao romântico. O verdadeiro amor é a aceitação de tudo o que o outro é, do que foi, do que será e... do que já não é..."

Anônimo disse...

DESCOBRI POR ACASO QUE TENHO ESPINHA BÍFIDA EM S1 NA REGIÃO LOMBO-SACRA. ESTOU COM MEDO POIS POSSO SER DESLIGADO DE UM CONCURSO PÚBLICO POR OCASIÃO DISSO. O QUE OCORRE É QUE NÃO TENHO NENHUMA DOR E NENHUMA ANORMALIDADE, TENHO 23 ANOS E SOU COMPLETAMENTE SAUDÁVEL.
O ADULTO QUE POSSUI ESPINHA BÍFIDA DEVE TOMAR ALGUM CUIDADO ESPECIAL ?
ISSO PODE COMPROMETER MINHA SAÚDE MAIS TARDE ?

FELIPEUNOAC@HOTMAIL.COM

Unknown disse...

Olá Felipe, não entendo porque poderá ser desligado por isso, se você mesmo falou que não o afeta em nada e é saudável. Acho que deve procurar um especialista, pois só ele poderá esclarecer suas dúvidas, para que possa ficar mais tranquilo. Espero que corra tudo bem e que não atrapalhe seu emprego. Boa sorte!!!!!!!!!!!!!
Isabel

Anônimo disse...

Felipe Boa Noite!

Se voce não tem nenhum problema associado, tipo dores, dormencia nos membros inferiores, incontinência, não vejo nenhum problema em relação ao concurso, até por quê, não vão pedir uma ressonancia da sua coluna.
Boa sorte e um forte abraço!!!

Julio (Voluntário AEBH)